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Alergia a exercício físico? Causas e dicas de tratamento para a coceira nas pernas de atletas

As coceiras nas pernas podem causar muito incômodo entre praticantes de exercícios físicos em geral e corrida particular, fazendo com que alguns esportistas interrompam a atividade, tamanho o desconforto. Para algumas pessoas, independente do nível de condicionamento, basta começar a correr ou se exercitar que elas já aparecem. A boa notícia é que, na maior parte dos casos, não se trata de um problema grave. As coceiras nas pernas que tanto incomodam os corredores e atletas podem ter diversas causas, e algumas podem demandar tratamento médico para aliviar o problema e se manter na atividade.

Fatores que podem provocar coceiras nas pernas e que serão mais detalhados no decorrer do texto:

Vasodilatação, associada ao aumento da circulação sanguínea nos membros inferiores, estimulado pela prática do exercício;
Urticária colinérgica, também conhecida como alergia física, que pode estar relacionada ao aumento da temperatura corporal e a substâncias liberadas pela pele durante a atividade física;
Dermatite de contato, que pode ser provocada por produtos usados para lavar roupas, materiais dos tecidos e suor, entre outros;
Consumo de beta-alanina, aminoácido presente em suplementos cujo efeito colateral recorrente é a ocorrência de coceiras;
Varizes, que podem causar coceiras inclusive durante a corrida e tratam-se do caso mais delicado, uma vez que são indicativos de insuficiência venosa crônica nos membros inferiores.

De acordo com o diretor da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE) Fernando Torres, as coceiras decorrentes da vasodilatação, de ordem alérgica ou mesmo resultantes da insuficiência venosa crônica, que inspiram mais cuidados, embora não sejam um sintoma agradável, não prenunciam necessariamente algo grave contra a saúde. É recomendável que o atleta identifique o que provoca o incômodo e converse com um médico. No entanto, é preciso ter em mente que algumas pessoas estarão sujeitas a sofrer com coceiras de vez em quando, como no caso de alergia a substâncias eliminadas pelo suor ou urticária colinérgica.

– As coceiras não podem ser um motivo para parar de fazer o exercício. A pessoa terá muito mais prejuízo sendo sedentária do que pela coceira – afirma Torres.

Médica da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Ana Mósca explica que o primeiro passo para reduzir as coceiras é adotar medidas de contenção, como evitar tecidos e produtos que possam desencadear alergias. Se a pessoa não conseguir detectar a causa, deve procurar um médico clínico, dermatologista ou alergista e imunologista. Segundo a dermatologista, quem sofre com coceiras ao correr pode adotar cuidados como:

Hidratação da pele, para evitar aumentar o atrito com a roupa ou mesmo entre as pernas;
Atenção aos produtos usados para lavar as roupas. Alvejantes, por exemplo, podem aumentar a irritação na pele;
Realização de compressas geladas, que podem proporcionar um alívio das coceiras por causa da vasoconstrição provocadas pelo gelo;
Uso de anti-histamínico. Em casos de urticária colinérgica, por exemplo, o medicamento pode ser prescrito para ajudar a controlar o problema e diminuir o mal-estar. Não se automedique! É o médico quem deve identificar a necessidade de uso de anti-histamínico.

O médico do esporte e colunista do EU Atleta Guilherme Renke recomenda recorrer ao uso de peças de tecidos conhecidos como segunda pele. Esses itens são muito indicados para quem busca melhora de performance mas também podem ajudar corredores que sofre com coceiras. Usados por baixo das roupas para a corrida e outras atividades, favorecem a transpiração e controle da temperatura ao praticar o esporte.

– Essa é uma tecnologia nova que facilita muito porque diminui o atrito, principalmente nas virilhas e axilas, e faz uma ventilação, evitando que a pessoa tenha a coceira – completa Renke.

Sobre as causas
Para saber como lidar com as coceiras nas pernas, é preciso conhecer suas causas possíveis. Essa compreensão dos fatores que podem provocar o problema é importante até para ajudar no diagnóstico clínico. Afinal, o médico deve ter informações sobre o histórico do paciente para identificar a origem das coceiras.

Vasodilatação
De acordo com Torres, essa é uma das causas recorrentes e pode ocorrer em qualquer praticante de corrida. A vasodilatação muscular e o desvio de circulação para a pele, para fazer a troca térmica durante o exercício e evitar que a pessoa eleve muito a temperatura corporal, podem gerar essa sensação de coceira em alguns indivíduos. Os vasos se dilatam e há um aumento da quantidade de sangue passando na região. No momento em que a pessoa interrompe a corrida ou outra atividade física, a coceira nas pernas desaparece. Como não se trata de um problema grave, mas uma consequência da atividade física, não há motivo para suspendê-la.

– A vasodilatação pode até provocar uma vermelhidão na pele, justamente por causa do controle térmico do organismo. Mas as pessoas não têm que se preocupar com isso. Essa vasodilatação é algo normal que acontece durante a prática de exercícios físicos – completa o médico do esporte.

Urticária colinérgica
Ana Mósca explica que, durante a prática de exercícios, são liberadas substâncias ativadoras de inflamações e alergias, que podem provocar reações em alguns indivíduos. A pessoa que sofre com urticária colinérgica apresenta modificações cutâneas, especialmente vasomotoras, e, quando sofre atrito, desencadeia lesões de aspecto urticariformes, semelhantes a uma irritação.

– Essa alergia pode ocorrer eventualmente, dependendo das características de cada um. Se a pessoa não está muito bem, pode ficar mais sensibilizada e sujeita a ter mais essa condição – acrescenta a dermatologista, reforçando que é preciso uma avaliação médica para conhecer os fatores que provocam a urticária colinérgica e as coceiras consequentes.

Apesar de provocar lesões na pele, Torres afirma que essa alergia não oferece riscos à saúde. No entanto, indivíduos com esse quadro estarão sujeitos a, eventualmente, enfrentar as coceiras ao praticar exercícios.

– Essa é uma reação alérgica mesmo. Não dá para prever quando a pessoa terá a coceira por causa dessa urticária – reforça o médico do esporte.

Como se trata de um problema crônico, a urticária colinérgica pode afetar até mesmo corredores mais treinados. Portanto, é importante consultar um médico para diagnóstico e tratamento, que pode demandar o uso de anti-histamínico, dependendo do caso.

Dermatite de contato
Corredores que já apresentam históricos de alergia podem estar mais sujeitos a sofrer com coceiras decorrentes de dermatites de contato durante a prática do exercício. Torres comenta que esse problema não está diretamente relacionado à realização de atividades físicas. No entanto, essas atividades podem favorecer a manifestação das alergias, sejam elas ao produto usado para lavar as roupas, ao tecido ou até mesmo ao suor. Sem contar que, dependendo da sensibilidade do indivíduo, esses fatores, quando combinados, podem agravar as coceiras e irritações na pele.

– Quando se pratica exercícios, o suor, associado ao produto usado para lavar a roupa acumulado no tecido, cria uma solução que pode causar alergias. O suor também deixa a roupa molhada, facilitando o contato com a pele e provocando as coceiras – exemplifica.

Com o apoio do médico do esporte Fernando Torres e da dermatologista Ana Mósca, listamos os principais fatores que podem desencadear as dermatites de contato durante a prática esportiva:

Uso de produtos com odores fortes para lavar roupas, como alvejantes;
Suor. Algumas pessoas podem ser mais sensíveis às substâncias e sais minerais liberados pelo suor durante o exercício, causando reações alérgicas cujos sintomas são as coceiras;
Materiais usados nos tecidos de roupas para práticas de esportes, como o nylon, que é um componente bastante irritante;
Atrito de pele com pele, sendo bastante comum entre as pernas.

Consumo de beta-alanina
Pessoas que fazem uso de suplementos com beta-alanina também estão sujeitas a sofrer com coceiras durante a a prática de exercícios. Esse aminoácido é usado por praticantes de atividades físicas com o objetivo de reduzir fadiga e melhorar performance. No entanto, algumas pessoas podem ter sensibilidade a essa substância e experimentar coceiras.

Torres comenta que esse é um efeito colateral recorrente entre quem faz uso da beta-alanina. Segundo ele, não se trata de um problema que ofereça riscos à saúde. Mas é importante que a pessoa reconheça que as coceiras durante as corridas, a musculação ou a pedalada também podem ser resultado do consumo do suplemento. Nesses casos, caberá ao indivíduo avaliar se continuará fazendo uso do aminoácido.

– Algumas pessoas podem ter mais sensibilidade e outras menos, sentindo apenas um incômodo. Se acha que consegue suportar para ter o benefício de aumento de performance que, eventualmente, a beta-alanina pode proporcionar, dá para conviver com as coceiras. Às vezes, é possível mexer na dose diária, fracionando-a para não ter sobrecarga de uma só vez e melhorar esse efeito colateral – observa o médico.

Varizes
Pessoas que sofrem com varizes já apresentam sensação de coceira nas pernas normalmente. Ao praticar atividades como corridas, também podem experimentar esse sintoma. Diretor da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), Julio Cesar Peclat de Oliveira destaca que as coceiras nas pernas causadas pelas varizes são aquelas que mais inspiram cuidados. Afinal, a presença desses vasinhos na superfície da pele é indicativo de insuficiência venosa crônica, que em casos mais graves pode provocar úlceras varicosas.

– Grande parte da população brasileira, em torno de 38% a 40%, segundo dados da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, tem varizes e boa parte desses pacientes apresenta a coceira como um dos sintomas. A dilatação das veias da perna gera um aumento da pressão e a pessoa tem sensação de peso, cansaço e queimação – afirma, acrescentando que, geralmente, as coceiras nas pernas que aparecem durante a corrida são mais relacionadas a alergias a substâncias liberadas durante a atividade física do que às varizes.

Ainda que possam experimentar sensação de coceiras nas pernas também ao correr, Torres comenta que pessoas com esse problema não podem abandonar a prática de exercícios. Uma rotina regular de atividades como a corrida pode ajudar a melhorar o quadro das varizes e de quem tem esse retorno venoso nos membros inferiores comprometido.

– O problema está nas válvulas das veias e a pessoa vai ter essa sensação de amortecimento, que se assemelha a uma coceira, correndo ou deixando de correr. Diga-se de passagem, o exercício físico ajuda na contração muscular do membro trabalhado, melhorando a circulação e ajudando no retorno venoso. A pessoa não tem piora do quadro. Mas é preciso buscar orientação de médico especialista para a prática do exercício, inclusive para contar com o uso de meia de compressão – diz.

O que fazer em caso de coceiras
Como o problema pode surgir mesmo em quem já está condicionado e ser desencadeado por fatores diversos ou associados, é preciso saber como proceder para enfrentamento adequado do problema. Com o apoio dos médicos, listamos as orientações sobre como agir em caso de coceiras nas pernas ao correr, pedalar ou praticar outros exercícios.

Faça uma avaliação de fatores que podem causar alergias e ser agravados durante a prática de exercícios. Esse é o primeiro passo para enfrentamento do problema. Verifique, por exemplo, se as coceiras durante começaram depois que passou a usar um novo sabão em pó, amaciante ou alvejante ou ainda se sua roupa conta com algum componente sintético diferente. Realize testes como troca de produtos para lavar roupas ou dos tecidos para eliminar fatores que podem causar esse incômodo. Se mesmo assim o problema não for solucionado, é preciso consultar um médico, que poderá prescrever um anti-histamínico;
Não se esqueça de manter a pele hidratada também ao praticar exercícios, para evitar atritos. Se a pele estiver muito irritada, reforce a hidratação e evite lavar demais a região, garantindo a permanência de uma espécie de película protetora que garantirá uma melhora resistência a fatores que podem causar a coceira;
Se o incômodo aparecer no meio da corrida, pedalada ou outro exercício, tente continuar na atividade. Em casos de vasodilatação, a coceira pode estabilizar depois de algum tempo. No entanto, cabe a você ponderar e decidir se dá para persistir ou não, uma vez que esse é um problema individual e depende da sensibilidade de cada indivíduo, além de uma série de fatores causadores. Porém, se reparar que as coceiras estão impedindo a prática regular da atividade, consulte um médico;
Se tiver varizes, mantenha um acompanhamento regular com o seu médico angiologista para ajudar a manter-se ativo fisicamente, beneficiando-se dos impactos positivos da corrida para a saúde das suas pernas;
Aposte no uso de meias de compressão elástica e de tecidos conhecidos como segunda pele para evitar coceiras;
Invista em uma boa hidratação, com ingestão de isotônicos e eletrólitos. A reposição de elementos perdidos pelo suor durante a corrida é importante para evitar um maior desgaste muscular, desconfortos e sintomas nos membros inferiores;
Evite praticar a atividade em horários de maior pico de calor, optando por realizá-las muito cedo ou no final do dia;
Por fim, não se desespere com as coceiras que surgem durante as corridas. Esse não é um problema com complicações muito graves. De todo modo, para se tranquilizar, procure um médico para diagnóstico e tratamento.

 

Fonte: https://globoesporte.globo.com/eu-atleta/noticia/alergia-a-exercicio-fisico-causas-e-dicas-de-tratamento-para-a-coceira-nas-pernas-de-atletas.ghtml