Quantas vezes você já escutou a afirmação: “musculação não emagrece, o que emagrece é o exercício aeróbico! ”. Por muitos anos essa afirmação foi utilizada no tratamento de indivíduos com sobrepeso ou obesidade, mas diversos estudos recentes mostram exatamente o oposto: “musculação pode ser mais efetiva para a mudança da composição corporal do que os exercícios aeróbicos”.
Um estudo muito recente publicado essa semana no New England Journal of Medicine feito com 141 homens obesos mostrou que o treinamento de força e resistência (musculação) ou ele combinado com o exercício aeróbico é tão eficiente quanto o aeróbico para o emagrecimento. Esse estudo é interessante pois a perda de peso em todos os grupos foi igual, ou seja, tanto no grupo do aeróbico, no grupo da musculação ou no combinado a perda de peso foi similar. Mas “emagrecer” é uma coisa, mudar a composição corporal é outra completamente diferente.
Se analisarmos os dados desse mesmo estudo e se levarmos em conta a avaliação do percentual de gordura corporal dos indivíduos estudados percebemos que: no grupo que realizou a musculação a perda de massa muscular foi de apenas 2% quando comparado com o grupo que fez apenas aeróbico onde a perda foi maior de 5%. Assim, quanto menor a massa muscular de um indivíduo maior é o seu percentual de gordura. Portanto, apesar do emagrecimento ser similar de todos os grupos estudados, o grupo que fez musculação teve a melhor composição corporal no estudo.
Por que o termo “Obeso Saudável” não existe?
A Obesidade é considerada uma doença inflamatória crônica, produz citocinas, que são proteínas que regulam o crescimento e atividade de células imunes responsáveis pela inflamação. Este estado eleva o risco de desenvolvimento de diversas doenças debilitantes.
Um estudo dinamarquês recente demonstrou que, mesmo indivíduos obesos e saudáveis metabolicamente (com HDL, triglicerídeos, glicemia e pressão normais) apresentam maior propensão ao desenvolvimento dessas patologias quando comparados com a população de peso normal e saudável. Isso seria consequência dessa reação inflamatória crônica provocada pela obesidade, que leva a um envelhecimento precoce das células. Com o envelhecimento há uma diminuição da função física de todos os indivíduos. Porém, a população obesa e saudável mostrou uma piora da mesma e também apresentou mais dor corporal em comparação aos adultos com peso normal. A importância dessa constatação é que o exercício físico controla, de forma direta, os processos inflamatórios e a diminuição da realização dos mesmos elevaria o risco de doenças mais graves.
Segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia (SBEM) a obesidade, por si só, independente dos exames bioquímicos apresentados pelo indivíduo, é uma ameaça para o desenvolvimento de doenças que geram uma diminuição de qualidade de vida e aumento da mortalidade da população mundial. Portanto não existe obeso saudável. Essa condição pode mudar a qualquer momento, assim o excesso de peso corporal tem de ser evitado e tratado sempre.
Outro grande estudo divulgado no Congresso Europeu sobre Obesidade de 2017, em Portugal, da Universidade de Birmingham identificou que mesmo os obesos que não apresentavam sinais de risco à saúde como hipertensão, diabetes, alterações no colesterol, ou seja, eram “metabolicamente saudáveis”, não estavam livres de problemas de saúde no fim da vida e eram mais suscetíveis a ter problemas cardíacos e acidentes vasculares cerebrais. Nesse estudo os pesquisadores analisaram 3,5 milhões de pessoas, entre 1995 e 2015, antes de concluir que a afirmação de que a existência de “obesos em forma” é um mito. De acordo com o estudo, o peso extra é sim um problema.
Por que fazer exercícios físicos e mudar a composição corporal é tão importante para quem está acima do peso?
Uma pesquisa divulgada na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela que mais de 60% dos brasileiros não faz exercícios físicos. De acordo com os dados do suplemento “Prática de Esporte e Atividade Física” da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2015, 100,5 milhões de brasileiros acima de 15 anos não praticaram esporte ou atividade física, o que corresponde a 62,1% dessa população.
Vale lembrar que na maioria dos estudos os maiores benefícios para o emagrecimento e a mudança da composição corporal foram vistos da união entre o exercício aeróbico e o exercício de força, ou seja, a musculação. Essa discussão nos traz a luz sobre os riscos do sobrepeso e da obesidade para a saúde e sobre a importância da combinação de diferentes estratégias para a mudança da composição corporal. Tenha sempre acompanhamento médico e nutricional com profissionais qualificados. Valorize e tenha sempre supervisão do profissional de educação física para realizar um programa de exercícios físicos.
Referências:
1 – Aerobic or Resistance Exercise, or Both, in Dieting Obese Older Adults – Dennis T. Villareal et al. N Engl J Med 2017; 376:1943-1955 May 18, 2017 DOI: 10.1056/NEJMoa1616338
2 – Weight Loss, Exercise, or Both and Physical Function in Obese Older Adults – Dennis T. Villareal. N Engl J Med. 2011 Mar 31; 364(13): 1218–1229. doi: 10.1056/NEJMoa1008234
Por Dr. Guilherme Renke
Médico atuante na área da Cardiologia e Medicina Desportiva. Formado pela Universidade Estácio de Sá, com pós-graduação em Cardiologia pelo Instituto Nacional de Cardiologia INCL RJ, pós-graduando em Nutriendocrinologia Funcional pela Faculdade Ingá e Endocrinologia pela IPEMED. Fellow e Membro da American Academy of Anti-Aging Medicine, Membro do American College of Sports Medicine, Membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Membro do Departamento de Ergometria e Reabilitação da SBC, e da World Society of Anti-Aging Medicine.
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