Os radicais livres e as espécies reativas de oxigênio são subprodutos de processos naturais do nosso organismo, como a geração de energia pela célula (ATP mitocondrial) e, também, de processos inflamatórios que prejudicam a função celular danificando macromoléculas, incluindo o DNA, proteínas e os lipídios.
Por exemplo, a peroxidação do colesterol LDL por espécies reativas do oxigênio é um passo patogênico precoce na aterosclerose. Este papel patogênico fornece a base para estudos que investigam a eficácia de micronutrientes com capacidade antioxidante (ex: vitamina C, vitamina A, ácido alfa lipoico e vitamina E) na prevenção de doença metabólicas, como o diabetes tipo 2 e as doenças cardiovasculares.
Alguns mecanismos moleculares tentam explicar como essas vitaminas e os antioxidantes melhoram a função endotelial e podem ajudar na prevenção das doenças metabólicas, como o diabetes. Uma delas é a diminuição da expressão da NF-kB, um fator de transcrição que desempenha um papel fundamental na regulação da resposta imunitária ao estresse, à infecção e inflamação crônica. De fato, o estresse oxidativo ativa fatores de transcrição, incluindo o NF-kB, o que aumenta a expressão de citocinas, moléculas de adesão e enzimas pró-inflamatórias.
Criar, então, estratégias nutricionais ricas em antioxidantes parece fundamental para prevenir o aparecimento do diabetes 2. Para se ter uma ideia do impacto global da doença, em 2010 cerca de 257 milhões de pessoas em todo o mundo tinham diabetes. E o problema está intimamente associado a disfunção endotelial, bem como o aumento do estresse oxidativo, e ambas as condições relacionadas desempenham um papel importante no desenvolvimento de doenças nos vasos sanguíneos (macro e microvasculares), que são as principais causas de mortalidade e complicações tardias nos indivíduos com diabetes.
Para se ter ideia do impacto da alimentação, um estudo recente (Diabetologia 2017) mostrou que uma alimentação rica em antioxidantes pode ajudar a proteger contra o diabetes 2. A equipe do estudo coletou dados de 64.223 mulheres, com informações dietéticas incluídas no estudo E3N-EPIC, que visava avaliar fatores de risco para câncer e outras doenças crônicas, como diabetes. Durante o acompanhamento do estudo, feito em 15 anos, 1.751 mulheres foram diagnosticadas com diabetes 2. Delas foram colhidos dados dietéticos através de um questionário de auto-relatório de 208 alimentos. Para a análise, uma capacidade antioxidante estimada desses alimentos foi utilizado o método FRAP (determinação do poder redutor do ferro).
De fato, nas mulheres com uma alimentação pobre em antioxidantes foi encontrado um maior risco associado ao desenvolvimento de diabetes tipo 2 versus mulheres com alimentação rica em antioxidantes. O autor do estudo, Guy Fagherazzi, PhD, afirmou: “A dieta desempenha um papel importante na prevenção do diabetes tipo 2, mas estamos constantemente procurando maneiras inovadoras de caracterizar a dieta de alguém que poderia ajudá-lo a adotar escolhas alimentares mais saudáveis. Portanto estudar a capacidade antioxidante total da dieta oferece essa possibilidade”.
É bem estabelecido na literatura que alguns alimentos ricos em antioxidantes, como ervas, vegetais, vitamina C ou E, entre outros, estão associados a um menor risco de desenvolver diabetes tipo 2, mas esses estudos só se baseiam em nutrientes isolados ou grupos de alimentos, não na capacidade antioxidante total da dieta como fez essa pesquisa. Quando avaliamos a supementação, uma grande meta-análise (British Journal of Nutrition 2015) mostrou que a suplementação com vitamina C ou vitamina E tem um efeito protetor na função endotelial e na prevenção da aterosclerose.
Nesse estudo, o maior benefício foi visto naqueles com menor nível de vitamina E no sangue e em idosos que são mais propensas a experimentar deficiência de micronutrientes e elevado estresse oxidativo. Existe controvérsia entre os ensaios que avaliam se a suplementação de vitaminas antioxidantes melhora a função endotelial em indivíduos com diabetes mellitus tipo 2. Mas em 2013 uma grande revisão (Obesity 2013) de dez ensaios clínicos randomizados foi feita avaliando o efeito da suplementação de vitamina E ou C na função endotelial em indivíduos com diabetes.
Na análise de subgrupos, a função endotelial pós-intervenção foi significativamente melhorada por suplementação de vitaminas antioxidantes nos indivíduos diabéticos com índice de massa corporal (IMC) ? 29,45 kg/m2, mas não foi visto o mesmo benefício em diabéticos obesos com IMC>29,45 kg/m2. Portanto, a suplementação prolongada de vitamina E ou C pode ser eficaz para melhorar a função endotelial em indivíduos com diabetes 2 não obesos.
Vale ressaltar que a suplementação de vitaminas ou antioxidantes sem supervisão médica e nutricional deve ser desencorajada. As dosagens podem variar de acordo com o histórico do paciente, além disso as vitaminas lipossolúveis, como a vitamina E, podem ser tóxicas em altas quantidades. Procure sempre orientação do seu médico e nutricionista.
Por: Guilherme Renke.
Médico da Nutrindo Ideais