Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade da Pensilvânia e publicado no periódico científico Journal of Social and Clinical Psychology aponta que o tempo saudável para passar nas redes sociais é de 30 minutos por dia. Dessa forma, conclui-se que o exagero pode acarretar problemas físicos, como vista cansada, e distúrbios psicológicos, cada vez mais comuns nos dias de hoje.
Pensando nisso, o Instagram está caminhando em direção a dar o fim nas curtidas. A medida entrou em teste no Brasil na última semana e tem causado polêmica, uma vez que oculta a quantidade de likes nas fotos de outros usuários. Apenas o dono da conta pode visualizar quantas pessoas interagiram com a publicação. “Não queremos que as pessoas sintam que estão em uma competição dentro do Instagram”, afirmou a companhia em uma nota.
Mas será que a medida é realmente benéfica para a saúde mental? “A gente tem uma necessidade de acompanhar a vida do outro, e mais do que isso, de se comparar. Essa comparação, muitas vezes, acaba afetando a saúde, uma vez que você gera alta expectativa de performance, que você tem que ser tão bom ou melhor que o outro”, pontua o psiquiatra e membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Higor Caldato. Dentre os possíveis distúrbios gerados por essa disputa implícita estão a ansiedade e a depressão. Além destes, devido aos antigos padrões de beleza cultivados pela sociedade, anorexia e bulimia também podem entrar na lista.
“A pessoa começa a associar o número de curtidas e o número de seguidores, por exemplo, à hipótese de ela ser uma pessoa socialmente aceita ou não”, afirma Higor. Para ele, a omissão das curtidas é uma boa medida, uma vez que realça uma grande crítica sobre a nossa relação atual com as redes socais. Contudo, ele pontua que a novidade não necessariamente “vai resolver ou vai evitar que as pessoas desenvolvam transtornos mentais”. Isso porque depressão e ansiedade, geralmente, não aparecem a partir de um único fator isolado. “A pessoa tem uma predisposição genética ou alguma disfunção da ação de neurotransmissores como a serotonina, a noradrenalina, a dopamina, ou tem também a questão cultural”, esmiúça.
De fato, os citados problemas mentais relacionados às imagens e à quantidade de informações que recebemos todos os dias não surgiram apenas com o boom das redes sociais. Eles já existiam antes de estarmos tão conectados a elas. Com a facilidade de acesso e a maior interação on-line, eles se tornaram mais comuns e, por consequência, mais discutidos. “Acho que essa iniciativa é interessante e válida, mas não acredito que por si só vá resolver possíveis quadros mentais que possam estar sendo estimulados por gatilhos da rede social”, afirma Higor.
Ele também ressalta que a medida é uma oportunidade para que as pessoas possam receber uma educação psciológica mais aprofundada, levantando questões sobre autoimagem e aceitação. “Principalmente os jovens e adolescentes que não têm essa crítica tão bem formada ainda, muitas vezes, acabam vendo uma fotografia ou um vídeo, como se aquilo fosse o todo da vida de uma pessoa. Eles passam a se comparar com a vida dela, e se esquecem que todos têm seus ganhos e suas perdas, vaias e aplausos, momentos felizes e tristes”.
Qualquer tipo de distúrbio mental e distorção de imagem deve ser examinado por profissionais, a fim de encontrar o melhor tratamento. “Não acredito que sair da rede social seja uma solução viável. Momentaneamente, pode até ser, se a pessoa estiver tomada de uma maneira muito intensa por esses estímulos da rede social. Mas, a médio e longo prazo, o ideal é criar instrumentos para ter mais crítica ao que vê e mudar o comportamento como um todo”, indica o médico.