O Brasil permite o consumo de 14 agrotóxicos proibidos mundialmente, mas em janeiro, essa lista acabou ganhando mais um integrante, graças a decisão da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que decidiu liberar o uso de Benzoato de Emamectina no país.
Trata-se de um agrotóxico bastante agressivo, que havia sido proibido em território nacional no ano de 2010 por suspeita de causar malformações e elevada neurotoxicidade àqueles que tem contato direto com a substância. Em outras palavras, ele foi banido porque podia causar danos graves ao nosso sistema nervoso.
Será que nosso corpo evoluiu, e ficamos resistentes a este veneno?
O agrotóxico chegou a ser usado em 2013 para brecar um surto de lagartas em plantações de milho transgênico. Tratava-se de um caso emergencial, em que o Ministério da Agricultura utilizou a substância, inclusive, sem a autorização da Anvisa. Cinco anos depois, no entanto, a agência nacional decidiu por liberar o uso desse veneno em todo o país. “O produto foi avaliado pelo Ministério quanto à sua eficiência agronômica e conclui-se que ele está apto a entrar no mercado”, diz Luis Rangel, secretário de Defesa Agropecuária no Brasil. Segundo ele, a proibição do Benzoato de Emamectina causou prejuízos de mais de R$ 11 bilhões ao setor agropecuário. E, afinal, dinheiro vem antes da saúde?
A Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida já se manifestou contra a liberação da Anvisa. O grupo declarou que, ao contrário de outras consultas públicas, desta vez não houve divulgação por parte da agência ao atores interessados.
Terminamos com um trecho do Parecer Pelo Indeferimento do Benzoato de Emamectina, publicado pela própria Anvisa em 2010 (e que subitamente sumiu do site da Anvisa):
Os efeitos neurotóxicos são tão marcantes e severos que as respostas de curto e longo prazo se confundem, isto é, efeitos tipicamente agudos são observados nos ensaios de longo prazo, e vice-versa. O produto revelou neurotoxicidade para todas as espécies e em doses tão baixas quanto, por exemplo, 0,1 mg/kg em camundongos e 0,5mg/kg em cães, mesmo em estudos onde este efeito não estava sendo investigado.
Incertezas no que diz respeito aos possíveis efeitos teratogênicos, e certezas dos efeitos deletérios demonstrados nos estudos com animais corroboram de forma decisiva para que não se exponha a população a este produto, seja nas lavouras, ou pelo consumo de alimentos.