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Cigarro em baixa: pesquisa aponta queda de 40% no hábito de fumar no Brasil nos últimos 12 anos

Nos últimos 12 anos, houve uma queda de 40% no hábito de fumar no Brasil, como mostram dados divulgados no início desse ano pela Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde. Segundo o estudo, os fumantes passaram de 15,6% da população em 2006 para 9,3% em 2018. Mas as ações e a vigilância devem ser constantes, como pede a Convenção-Quadro para o Controle do Uso do Tabaco, tratado internacional de saúde pública de 2005 da Organização Mundial da Saúde (OMS), prontamente adotado no Brasil. A partir dos seis pontos básicos da convenção, e mesmo antes de sua implantação, foi desenvolvida uma série de ações com o objetivo de combater o tabagismo.

No resto do mundo, nem todos os países têm políticas tão firmes contra o uso do tabaco. Mas há uma tendência para implementá-las. Tanto que o Relatório da OMS sobre a Epidemia Mundial de Tabaco de 2017 revelou que 4.7 bilhões de pessoas, ou 63% da população mundial, são atingidas por pelo menos uma medida de controle do fumo, mais do que quatro vezes os números de 2007, quando apenas 1 bilhão de pessoas sofriam influência dessas medidas. Mesmo assim, o tabaco ainda é o líder entre as causas de morte no planeta, com mais de sete milhões de óbitos por ano. Pouco mais de seis milhões dessas mortes são consequência do fumo ativo, mas quase um milhão são fumantes passivos, que respiram a fumaça exalada por pessoas próximas. Por isso, o EU Atleta conversou com especialistas para entender os males que a dependência do cigarro acarreta.

Os seis tópicos para controle do uso de tabaco:
Oferecer ajuda para a cessação do fumo

Tratamento de cessação do tabaco – Entre 2005 e 2016, quase 1,6 milhão de brasileiros realizaram o tratamento na rede pública de saúde, segundo o INCA.
Serviço telefônico nacional para tirar dúvidas, com número (Disque Saúde 136) estampado no rótulo frontal de todos os maços de cigarros.
Proteger a população contra a fumaça do tabaco

Proibição do ato de fumar em locais fechados, públicos e privados;
Fim dos fumódromos.
Importante: Essas duas medidas fizeram o país se tornar o primeiro com população acima de 10 milhões de habitantes a ser 100% livre de fumo em espaços público e em ambiente de trabalho.
Advertir sobre os perigos do tabaco

Presença obrigatória de mensagens e imagens de impacto sobre os males do tabagismo nas embalagens de todos os maços de cigarros.
Fazer cumprir as resoluções sobre propaganda, publicidade e patrocínio

Proibição da publicidade de cigarro nos meios de comunicação desde 2000;
Proibição de patrocínio de eventos culturais e esportivos por marcas de cigarro e de pontos de venda de cigarro nesses mesmos eventos.
Monitorar o uso de tabaco e políticas de prevenção

Desde 2006, o Vigitel monitora diversos hábitos da população, inclusive o de fumar.
Aumentar impostos sobre o tabaco

Aumento do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) do cigarro, chegando a 66,7% hoje;
Estabelecimento de uma política de preço mínimo – um maço de 20 cigarros deve custar no mínimo R$ 5.
As ações não param. Em 2018, o Ministério da Saúde assumiu, durante a 42ª Reunião Ordinária de Ministros de Saúde do Mercosul, o compromisso de ajudar a eliminar o comércio ilegal de cigarros, que no ano passado superou o legal: foram consumidos 106,2 bilhões de cigarros, dos quais 57,5 bilhões de unidades (54%) fora do mercado legal. Agora, no fim de julho, ficou pronto para ser votado na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) um projeto de lei que institui a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico incidente sobre a importação e a comercialização de produtos manufaturados do tabaco (Cide-Tabaco). Pelo PL 2.898/2019, fica definida uma alíquota da contribuição de 2,5%, sobre o valor da operação ou, no caso de importação, sobre o valor aduaneiro do produto.

Malefícios
A cardiologista Aline Renke, membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), explica que o cigarro é constituído por mais de 4.700 substâncias, sendo pelo menos 40 delas sabidamente cancerígenas, provavelmente 70 delas.

As principais e mais perigosas substâncias são:

Nicotina
Monóxido de carbono
Amônia
Cetonas
Formaldeído
Acetaldeído
Acroleína
Alcatrão
– No coração, o tabagismo se relaciona com a doença isquêmica, arritmias e descompensação da insuficiência cardíaca. No pulmão, é a principal causa de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), além de estar relacionado a câncer de pulmão, laringe, faringe, boca e bexiga – enumera Aline

A mais conhecida entre todas as substâncias do cigarro é a nicotina, encontrada nas folhas de tabaco e responsável pela dependência do cigarro, já que atua no sistema nervoso central. A nicotina e outras substâncias atingem, através do tabagismo quase todo o corpo, do nariz à boca, do cérebro ao coração, passando pela pele, pulmões, aparelho reprodutor, laringe, aparelho digestivo, bexiga e rins. E não só dos fumantes ativos. A pesquisa da Vigitel lembra que “o tabagismo e a exposição passiva ao tabaco são importantes fatores de risco para o desenvolvimento de uma série de doenças crônicas, tais como câncer, doenças pulmonares e doenças cardiovasculares, de modo que o uso do tabaco continua sendo líder global entre as causas de mortes evitáveis”.

O cardiologista Fabio Tuche, membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia e doutor em Ciências pela Uerj, lembra que o tabagismo reduz a expectativa de vida em 10 anos em média. Após os 40 anos de idade, cada ano adicional fumando diminui essa expectativa em 3 meses.

– Um estudo de 2018 mostrou que fumar apenas alguns cigarros já aumenta o risco de doença coronariana (entupimento das artérias do coração) e de acidente vascular cerebral. Logo, fumantes que acreditam que fumar com moderação leva a pouco ou nenhum dano estão equivocados. Mesmo um cigarro por dia é responsável por cerca de 40% a 50% do risco de desenvolver uma doença coronariana e AVC comparado ao risco de fumar 20 cigarros por dia, e fumar 5 cigarros por dia tem aproximadamente 55% a 65% desse risco. Não há nível seguro de tabagismo para a doença cardiovascular. O seguro é não fumar – alerta.

Algumas das consequências do tabagismo:

Doenças cardiovasculares, como infarto, trombose e AVC;
Doenças respiratórias, como câncer de pulmão, efisema pulmonar, doença pulmonar obstrutiva crônica, pneumonia e bronquite;
Diversos tipos de câncer, como leucemia mielóide aguda; câncer de bexiga; de pâncreas; de fígado; do colo do útero; de esôfago; nos rins; de laringe; de pulmão; na boca; de faringe; e de estômago;
Osteosporose;
Impotência sexual;
Depressão;
Fadiga;
No caso de grávidas: aborto e mau desenvolvimento do feto.

Dependência
A nicotina é uma droga que apresenta alto poder de modificar a biologia do cérebro, sendo indutora de dependência, associado a fatores individuais, sociais e ambientais. Aline Renke explica que, ao ser inalada, a nicotina se liga aos receptores nicotínicos cerebrais, que são ativados, liberando dopamina, neurotransmissor responsável pelas sensações de prazer e satisfação. O uso crônico da nicotina leva a uma dessensibilização desses receptores, induzindo o fumante a aumentar o número de cigarros fumados para atingir o mesmo efeito.

– Além dos efeitos desfavoráveis sobre a pressão arterial e tônus simpático e uma redução no suprimento de oxigênio do miocárdio, o tabagismo pode promover vasoconstrição, resultando em maior risco de desenvolver doença vascular periférica sintomática e aneurismas de aorta abdominal. Fumar a longo prazo pode aumentar a oxidação do colesterol LDL e comprometer a vasodilatação da artéria coronária – acrescenta a cardiologista.

Para alcançar o máximo desempenho, coração, pulmão e músculos necessitam de sangue rico em oxigênio. Quando a fumaça do cigarro é inalada, o monóxido de carbono se liga aos glóbulos vermelhos e o oxigênio é deslocado, impedindo a entrega para os músculos e outros tecidos do organismo. O resultado e um aumento do ácido lático com consequente fadiga, exaustão, dispneia.

Atividades físicas contra o cigarro
Aline explica que a diminuição da oxigenação também está associada a uma redução do desempenho físico, aumentando a frequência cardíaca basal em repouso. Ou seja, cigarro e atividade física não combinam. Isso porque a nicotina interfere na circulação sanguínea, o alcatrão diminui a elasticidade do pulmão e o monóxido de carbono causa falta de ar ao competir com o oxigênio em nosso organismo. Por outro lado, a médica afirma que a atividade física pode ser importante para aqueles que desejam parar de fumar.

– Estudos prévios demonstraram que o exercício vigoroso pode reduzir o desejo por nicotina, melhorando os sintomas de abstinência, como inquietação, fome e ganho de peso. Pesquisadores atribuíram esse efeito à liberação de noradrenalina e cortisol – relata.

A maioria dos efeitos cardiovasculares começa a reverter com alguns dias de abandono do tabagismo. Já o risco de desenvolvimento de câncer perdura.

– Tabagistas que param reduzem o excesso de risco de um evento coronariano em 50% nos primeiros dois anos após a cessação, com grande parte desse benefício visto nos primeiros meses. Da mesma forma, o risco de acidente vascular cerebral diminui de forma constante, tendo o mesmo risco de AVC de não fumantes após cinco a 15 anos – acrescenta Aline.