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Excesso de exercícios e níveis hormonais nas mulheres: veja mitos e verdades

Quantas vezes você já escutou a afirmação: “Exercícios físicos podem alterar o ciclo menstrual nas mulheres”? Muitas mulheres têm dúvidas quando o assunto é a prática regular dos exercícios e as possíveis alterações relacionadas com o ciclo menstrual. O exercício físico regular, realizado de maneira correta e associado com ingestão alimentar adequada, não interfere na função hormonal, se constituindo num importante instrumento para ganho de massa óssea, capaz de fazer, a partir da adolescência, a prevenção primária da osteoporose pós-menopausa. As diferentes fases do ciclo menstrual parecem não interferir no desempenho. Alguns trabalhos sugerem também o alívio de sintomas pré-menstruais em mulheres que se exercitam regularmente.

O que é a tríade da mulher atleta? Pode acontecer com qualquer mulher que pratique exercícios?

A chamada tríade da mulher atleta é uma síndrome que ocorre não somente em mulheres que participam de exercícios de caráter competitivo, mas acomete de modo cada vez mais frequente adolescentes e mulheres praticantes de atividade física de caráter recreacional. Os seus componentes são: distúrbios alimentares (anorexia/bulimia), amenorreia (ausência da menstruação) e osteopenia (perda óssea).

Esta síndrome é frequentemente negada e não diagnosticada. Por trás dos sinais e sintomas está a pressão interna e externa para se tentar atingir e manter um peso corporal e um percentual de gordura exageradamente baixos. Desta forma, no plano não-desportivo verifica-se com frequência a pressão social pela adoção de padrões estéticos que divergem das características naturais individuais.

No plano desportivo, as atletas de maior risco são aquelas que participam ou de esportes que valorizam a manutenção de um baixo peso corporal, como ginástica, patinação artística, saltos ornamentais e dança, ou de modalidades de endurance, como corrida de longa distância e ciclismo. É fundamental um maior conhecimento dos achados e das consequências dessa tríade por parte de médicos, atletas, pais, técnicos e assessorias desportivas para uma prevenção precoce e um tratamento eficaz.

Como o exercício excessivo pode causar transtornos alimentares?

Os distúrbios alimentares podem ter apresentações diversas, como restrição da ingestão, anorexia, bulimia e outras. Tais distúrbios podem ser causas de alterações metabólicas importantes, principalmente se associados a um treinamento físico inadequado.

Segundo o psiquiatra Higor Caldato, especialista em transtornos alimentares pela UFRJ, “as alterações relacionadas com os exercícios são em sua maioria benéficas do ponto de vista psicológico com melhora da autoestima, bem estar geral e diminuição da ansiedade. No entanto, o exercício em excesso pode contribuir para os transtornos alimentares, em especial, a ortorexia (pessoas com hábitos saudáveis extremamente rígidos que atrapalham nas relações sociais e no trabalho do indivíduo) que traz grande prejuízo para a saúde da paciente.”

Como o exercício excessivo pode alterar o ciclo menstrual?

A fisiopatologia da amenorreia relacionada ao exercício físico não está completamente esclarecida. As hipóteses mais fortes, no entanto, são de que as endorfinas produzidas durante a atividade física e a manutenção de seus níveis aumentados com o treinamento diário possam inibir a produção do hormônio liberador das gonadotrofinas (GnRH) pelo hipotálamo e, com isso, inibir todo o eixo hormonal feminino (hipotálamo-hipófise-ovário). A outra hipótese, e provavelmente as duas coexistem, é de que as endorfinas diminuiriam a produção de dopamina no núcleo arqueado hipotalâmico. Sendo a dopamina um fator inibitório da prolactina, esta teria seus níveis séricos aumentados, assim, ela seria também capaz de diminuir a produção de GnRH.

Lembrando que a amenorreia gerada pelo exercício é um diagnóstico de exclusão que só poderá ser feito depois que a história clínica, o exame físico e exames complementares, em conjunto, descartem outras causas. Por isso, fundamental o acompanhamento em conjunto do médico com o profissional de educação física para as mulheres que praticam exercícios regularmente a fim de evitar possíveis efeitos deletérios do exercício físico excessivo e o overtraining.

Por: Dr. Guilherme Renke
Médico da Nutrindo Ideais e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM)