Recentemente a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) anunciou a mudança do valor de referência da Vitamina D. Segundo a nota publicada pela Sociedade, até então o valor normal era acima de 30 ng/mL. Porém, atualmente estão sendo aceitos valores a partir de 20 ng/mL. Ainda segundo o comunicado, pacientes que estão entre as dosagens de 20 a 30 ng/mL não necessitam de reposição da vitamina.
Esse posicionamento trouxe muita polêmica pois atualmente inúmeros trabalhos científicos mostram a importância da vitamina D para o metabolismo do nosso organismo. A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia SBEM também se posicionou, segundo a entidade valores de vitamina D são os seguintes:
. Maiores do que 20 ng/mL é o desejável para população geral saudável.
. Entre 30 e 60 ng/mL é o recomendado para grupos de risco como idosos, gestantes, pacientes com osteomalácia, raquitismos, osteoporose, hiperparatireoidismo secundário, doenças inflamatórias, doenças autoimunes e renal crônica e pré-bariátricos;
. Entre 10 e 20 ng/mL é considerado baixo com risco de aumentar remodelação óssea e, com isso, perda de massa óssea, além do risco de osteoporose e fraturas;
. Acima de 100 ng/mL é considerado elevado com risco de hipercalcemia (quando a quantidade de cálcio no sangue é maior do que o normal) e intoxicação.
Porque há um interesse tão grande na suplementação da vitamina D por desportistas?
O interesse pela vitamina D aumentou consideravelmente também por atletas, muitos fazem uso de suplementos diários de vitamina D por vezes sem orientação médica. A razão para esse interesse é, em parte, não só atribuída a descoberta de que há receptores de vitamina D em muitos tecidos, sugerindo um papel mais global para a vitamina D do que se considerava anteriormente. Ao contrário das outras vitaminas que são obtidas através da dieta, a vitamina D é única, pois a síntese endógena após a exposição ao raios ultravioletas (UVB) é a via predominante de entrada no sangue.
Além disso, a vitamina D pode ser melhor classificada como um pré-hormônio, uma vez que sua estrutura é semelhante à de um hormônio esteróide, e a sua produção é derivada de um precursor de colesterol (7-dehidrocolesteol) na pele. A classificação do estado da vitamina D está atualmente sujeita a um debate considerável, com muitos autores que se opõem às recomendações atuais. Independentemente da concentração ideal sugerida, há evidências crescentes que sugerem que muitos atletas são, de fato, deficientes em vitamina D, especialmente nos meses de inverno em grande parte como consequência da exposição inadequada ao sol, combinada com práticas alimentares precárias.
Como a vitamina D pode interferir na performance?
Diversos estudos mostram que a deficiência da vitamina D prejudica a função muscular, a capacidade regenerativa muscular, a função imunológica, a saúde óssea e até mesmo a função cardiovascular foram todas associadas a baixa vitamina D em atletas.
Estudos recentes sugerem que a vitamina D mantém o desempenho físico em atletas e outras populações ativas, por exemplo, o consumo máximo de oxigénio (VO2) pode estar relacionado ao estado de vitamina D. Baixos níveis de vitamina D podem afetar a força muscular e pode prejudicar a síntese protêica através da diminuição da ativação do receptor de vitamina D no tecido muscular. A vitamina D pode proteger contra lesões por uso excessivo, como fratura de estresse, através do seu papel bem documentado no metabolismo do cálcio.
Para destacar os dados recentemente publicados sobre o estado da vitamina D dos atletas e o efeito da suplementação de vitamina D na força muscular e desempenho na população atlética. O receptor de vitamina D existe no músculo esquelético e a fraqueza muscular tem sido relatada em indivíduos com níveis menores do que <20 ng/mL. Os achados experimentais revelam mecanismos celulares e genômicos que implicam vitamina D na força e função da massa muscular.
Os atletas parecem ter o mesmo risco de deficiência de vitamina D e variação sazonal que a população geral. As intervenções com suplementos de vitamina D tiveram resultados positivos na função muscular observada apenas em participantes com insuficiência < 30ng/mL
De fato, se analisarmos as evidências das ações de vitamina D no músculo com base em estudos recentes há uma profunda ligação entre a deficiência de vitamina D com a fraqueza muscular e a sarcopenia. Os efeitos da vitamina D na função metabólica muscular ocorre, especificamente, na sensibilidade à insulina. A insulina é um hormônio anabólico extremamente importante para a manutenção da massa muscular.
Então, o que não podemos esquecer sobre a Vitamina D?
Fatores relacionados com a deficiência de Vitamina D:
Baixa exposição ao sol ou uso de filtro solar (FPS 8 já bloqueia); síndromes de má-absorção (celíacos, obesidade, SII, Crohn, fibrose cística); envelhecimento (diminuição da capacidade de metabolização na pele e hidroxilação da VIT D no rim); uso de medicamentos que aumentam catabolismos (corticóides, antifúngicos e anticonvulsivante) ou alteram absorção intestinal (orlistat).
Principais efeitos da Vitamina D:
Aumenta absorção de cálcio no intestino e nos rins favorecendo a formação óssea e modulando o PTH, favorece a massa muscular e reduz queda nos idosos, potente anti-proliferativo e imunomodulador sendo suportada sua suplementação na psoríase, artrite reumatóide, lúpus entre outras doenças autoimunes; sua deficiência na gestante aumenta risco de autismo; melhora a resistência à insulina no Diabetes 2.
Quais são os níveis:
<20ng/ml significam deficiência; níveis <30ng/ml significam insuficiência; níveis ideais para atletas 30 a 60ng/ml; níveis >100ng/ml significam intoxicação (risco de hipercalcemia).
Quem deve dosar SEMPRE A Vitamina D:
Obesos, grávidas e lactentes; idosos com história de fraturas ou quedas; em casos de: osteoporose, raquitismo, osteomalácia ou dores ósseas; insuficiência renal ou hepática; portadores de doenças autoimunes; hipocalcemia (baixo cálcio) ou hipofosfatemia (baixo fósforo); doenças inflamatórias intestinais, hiperparatireoidismo ou usuários de medicamentos que interferem na metabolização da vitamina D.
Importante lembrar que a suplementação com a Vitamina D deve ser feita com acompanhamento médico. Não faça automedicação, A vitamina D é um pré-hormônio e suas doses podem variar de 400 a 50.000UI. Procure seu médico para avaliar a necessidade ou não da reposição sendo necessário acompanhamento periódico pelo endocrinologista.
Referências:
1) Moran DS et al. Vitamin d and physical performance. Sports Med. (2013) Jul;43(7):601-11. doi: 10.1007/s40279-013-0036-y.
2) Owens DJ et al. Eur J Sport Sci. (2015) Vitamin D and the athlete: emerging insights.
3) Von Hurst PR et al. Curr Opin Clin Nutr Metab Care. (2014) Vitamin D and skeletal muscle function in athletes.
4) Girgis CM et al. Clin Endocrinol (Oxf). (2014). Effects of vitamin D in skeletal muscle: falls, strength, athletic performance and insulin sensitivity.
Por: Dr. Guilherme Renke
Médico da Nutrindo Ideais