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Quais os alimentos podem melhorar a sua microbiota intestinal?

Nós possuímos mais bactérias em nosso corpo do que células próprias, essa afirmação pode gerar uma enorme preocupação se pensarmos nas bactérias como sinonimo de doença. Mas, felizmente, os avanços da ciência mostram exatamente o contrário: há uma intima relação positiva das bactérias que habitam nosso corpo com a saúde do nosso organismo. A microbiota intestinal é a maior comunidade de bactérias que habitam nosso organismo e ela tem o poder de influenciar a nossa saúde, o nosso peso, o nosso humor ou até a nossa resposta imune.

Com essa explosão de interesse no assunto “microbiota intestinal“, podemos encontrar nas prateleiras de supermercados e nas farmácias uma enorme variedade de produtos probióticos (produtos que contêm bactérias e leveduras vivas) que afirmam ser capazes de influenciar nosso microbioma intestinal para melhor. Mas será que isso é realmente possível?

 

Qual a origem da teoria dos probióticos?

 

Os produtos lácteos fermentados têm sido associados há muito tempo com a capacidade de conferir benefícios à saúde naqueles que os consomem regularmente, foi Ellie Metchnikoff que em 1908 fez a primeira teorização do impacto desses alimentos sobre a microbiota bacteriana do intestino. De fato, muitos dos alimentos que contêm probióticos aparecem na forma de produtos lácteos fermentados, como os iogurtes e o kefir. Os probióticos são microorganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem um benefício para a saúde ao hospedeiro conforme mostram vários estudos. Os probióticos podem também ser consumidos em alimentos que contêm estesmicroorganismos em grandes quantidades ou podem também serem feitos na forma de suplementos que são constituídos por esses organismos vivos.

 

Como os probióticos agem em nosso organismo?

 

Uma das principais formas pelas quais probióticos podem exercer efeitos benéficos está em alterar a microbiota intestinal. Isto pode ser feito através da introdução de novas espécies no trato gastrointestinal ou promovendo o crescimento de bactérias benéficas já existentes. Alguns estudos mostram que o consumo dos probióticos está associado um aumento de cepas bacterianas consideradas benéficas, como os Lactobacillus e o Bifidobacterium, enquanto que simultaneamente diminui espécies prejudiciais como o  Clostridium perfringens. O consumo dos probióticos também foi capaz de reduzir a gravidade da infecção por Giardia intestinalis através da modulação do sistema imunológico. Além disso, demonstrou-se que os probióticos inibem a aderência de bactérias prejudiciais como a Salmonella typhimurium e a Escherichia coli. Em geral, os estudos utilizando probióticos descobriram que há uma mudança de uma resposta imune inata para uma resposta imune adaptativa, bem como, aumentos nos níveis de Imunoglobilinas A (IgA) que se relacionam com uma melhor tolerância imunológica.

 

 

Quais os benefícios dos probióticos para as doenças alérgicas e autoimunes?

 

As doenças alérgicas vêm crescendo nos países desenvolvidos há décadas, levando a uma maior incidência de doenças como asma e alergias alimentares. Muitas alergias, especialmente as relacionadas com alimentos, são desenvolvidas precocemente, com a maioria das alergias alimentares se desenvolvendo nos primeiros 2 anos de vida. Embora a maioria das alergias alimentares desenvolvidas precocemente na vida não persistam, algumas podem tornar-se condições permanentes. Trabalhos recentes demonstraram que um fator cada vez mais importante para determinar se uma criança irá desenvolver uma doença alérgica, seja alergia alimentar ou asma, é o nível de complexidade e os organismos específicos presentes na microbiota intestinal. Níveis mais elevados de lactobacillus (L. acidophilus, L. delbrueckii e L. helveticus) no intestino dos lactentes têm sido associados a uma menor incidência de doença alérgica na vida adulta. A suplementação comBifidobacterium, por sua vez, demonstrou influenciar a microbiota intestinal de recém-nascidos em desmame, reduzindo os níveis de Bacteroides o que tem sido associada com menor incidência de alergia alimentar.

 

O que é o Kefir e quais os seus benefícios?

Embora não tão popular quanto outros produtos lácteos fermentados (como iogurte e o queijo), o kefir tem seus benefícios amplamente estudados e associados à saúde. Presente originalmente em comunidades das montanhas caucasianas, foi descoberto no segundo milênio antes de Cristo, o que significa que este é o método de fermentação mais antigo que existe. Uma das características que distinguem o kefir de muitos outros produtos lácteos fermentados é a exigência da presença do grão de kefir para fermentação. Os grãos de kefir são uma colônia de microrganismos simbióticos imersa em uma matriz composta de polissacarídeos e proteínas. Diferentemente do iogurte que é fermentado apenas por lactobacilos, o kefir exige temperaturas mais baixas e é fermentado por mais de quarenta tipos diferentes de microorganismos em sua colônia, incluindo as leveduras. A preparação dessa colônia rica é tradicionalmente feita com leite de vaca, mas pode ser preparada com leite de cabra, ovelha, de fonte vegetal ou até mesmo com água.

Devido à microbiota altamente complexa do kefir, existe uma multiplicidade de organismos e produtos metabólicos presentes no leite fermentado. Esta combinação de organismos microbianos vivos e metabólitos contribui para uma vasta gama de efeitos atribuídos ao kefir, muitos dos quais são benéficos para a saúde. Tem sido demonstrado que os grãos de Kefir são capazes de reduzir os níveis de lactose do leite através do processo de fermentação e também em reduzir os níveis de colesterol presentes em até 84% após 24 h de fermentação.

 

Cuidados, vantagens e desvantagens do Kefir

 

Cuidados adicionais:

Segundo a nutricionista Luna Azevedo durante a preparação do kefir a higiene é fundamental. Reserve os utensílios usados na preparação do grão apenas para essa finalidade. Ele na água pode ter contaminação por fungo se o açúcar mascavo não for corretamente armazenado e tiver contato com muita umidade. Não deixe o frasco com os grãos de kefir exposto ao sol. Guarda-o num armário da cozinha e longe de qualquer produto químico. Nunca lave os grãos, lave apenas o frasco, quando fizer as trocas de leite ou água + açúcar. E não use sabão ou detergente, apenas água.

Vantagens:  Já foi observado em testes de laboratório que os microorganismos do kefir têm o poder de inibir os patógenos da salmonella e do E. coli. Essa colônia possui mais de 40 microorganismos vivos, sendo muito mais completo do que qualquer produto no mercado liofolizado.

Desvantagens: A manutenção dos grãos durante anos exige que se prepare kefir quase diariamente ou que se tenham alguns cuidados especiais de conservação. O kefir pode ser congelado durante algum tempo, mas tem de ser revitalizado passadas poucas semanas. O kefir de água + açúcar mascavo deve se ter o cuidado de conversação do açúcar pada evitar contaminação e crescimento de fungos. Deve ter-se em conta que o kefir de água não contém a mesma microflora do kefir feito com leite. Apesar dos microorganismos consumirem a lactose (açúcar do leite), quem é intolerante severo pode ainda sentir mal estar.

Vale lembrar que o uso dos probióticos deve ser feito com orientação médica ou do nutricionista. De fato, os microorganismos vivos possuem extrema importância na nossa saúde e merecem total atenção. Para que permaneçam vivos no trato intestinal, devem ser administrados preferencialmente com pré-bióticos (fibras não digeríveis e usadas de “alimento” para esses seres vivos). Existem versões com pré e probióticos (simbióticos), bem como, é possível receber sua doação de kefir. Tenham sempre a orientação de seu médico e nutricionista para possível indicação de acordo com cada caso.

 

 

Por Dr. Guilherme Renke – Médico pela Universidade Estácio de Sá, com pós-graduação em Cardiologia pelo Instituto Nacional de Cardiologia INCL RJ e Endocrinologia pela IPEMED. Membro da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, Membro do American College of Sports Medicine, Membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Membro do Departamento de Ergometria e Reabilitação da SBC, Médico pós-graduado em endocrinologia e metabologia da Nutrindo Ideais e colunista da página Eu Atleta – Globo.com

 

 

Referências:

1 – Altmann S. W., Davis H. R., Jr., Zhu L. J., Yao X., Hoos L. M., Tetzloff G., et al. (2004). Niemann-Pick C1 Like 1 protein is critical for intestinal cholesterol absorption. Science 303 1201–1204. 10.1126/science.1093131

2 – Angulo L., Lopez E., Lema C. (1993). Microflora present in kefir grains of the Galician region (North-West of Spain). J. Dairy Res. 60 263–267. 10.1017/S002202990002759X

3 – Assadi M. M., Pourahmad R., Moazami N. (2000). Use of isolated kefir starter cultures in kefir production. World J. Microbiol. Biotechnol. 16 541–543. 10.1023/A:1008939132685

4 – Atalan G., Demirkan I., Yaman H., Cina M. (2003). Effect of topical kefir application on open wound healing on in vivo study. Kafkas Univ. Vet. Fak. Dderg. 9 43–47.

5 – Azad M. B., Konya T., Maughan H., Guttman D. S., Field C. J., Sears M. R., et al. (2013). Infant gut microbiota and the hygiene hypothesis of allergic disease: impact of household pets and siblings on microbiota composition and diversity. Allergy Asthma Clin. Immunol. 9 15 10.1186/1710-1492-9-15

6 – Carasi P., Racedo S., Jacquot C., Romanin D., Serradell M., Urdaci M. (2015). Impact of Kefir Derived Lactobacillus kefiri on the mucosal immune response and gut microbiota. J. Immunol. Res. 2015 361604 10.1155/2015/361604.