O estimulo a dietas com baixo consumo de gorduras favoreceram nos últimos anos ao maior consumo dos carboidratos refinados. O padrão alimentar da maioria dos brasileiros, caracterizado pelo elevado consumo de alimentos refinados ricos em açúcar, contribuem para um desequilíbrio metabólico e o aparecimento do sobrepeso, da obesidade e provocar inflamação sistêmica de baixo grau segundo revisão da Organização Mundial da Saúde (OMS). Uma revisão sistemática de Hooper et al publicada na Cochrane em 2015 mostra que substituir gorduras saturadas por carboidratos refinados não traz benefícios para redução do risco cardiovascular. Outro estudo mostra que a substituição de gorduras saturadas por açúcares refinados ou alimentos com açúcares adicionados não foi significativamente associado alteração do risco cardiovascular como mostra Li Y et al publicado no jornal da American College of Cardiology.
No entanto, uma dieta rica em carboidratos complexos pode ser extremamente benéfica para a saúde como, por exemplo, na alimentação vegetariana ou do mediterrâneo onde o maior consumo de fibras está relacionado com uma diminuição de 9% no risco cardiovascular como mostra estudo de Li Y et al publicado no jornal da American College of Cardiology em 2015. Outro estudo o PRECIMED que acompanhou pacientes por 8 anos mostrou que a o consumo de verduras e frutas foi significativamente associados com um menor risco de mortalidade.
Como o consumo excessivo de carboidratos leva ao aumento do risco cardiovascular?
Os estudos de Sarwar et al publicado em 2010 no Lancet e o estudo de Kolovou et al publicado em 2013 no Curr Opin Cardiol mostram que a elevação dos triglicerídeos é um importante fator de risco cardiovascular. Stanhope et al observaram que dietas ricas em carboidratos podem levar a níveis mais altos de triglicerídeos em jejum como um resultado da acumulação hepática de VLDL e quilomicrons remanescentes. Outro detalhe importante é a relação entre a carga glicêmica feita em uma refeição e os níveis pós-prandiais de triglicerídeos, o estudo publicado no JAMA em 2007 demonstrou que o aumento dos níveis de triglicerídeos pós-prandial é, possivelmente, um preditor independente de doença cardiovascular do que os triglicerídeos em jejum. Nesse contexto, um estudo brasileiro de Coelho et al publicado recentemente no Arch Endocrinol Metab avaliou que o consumo de uma bebida rica em açúcar durante uma refeição (suco de laranja) foi capaz de prolongar a elevação dos triglicerídeos até 5h após a refeição em mulheres com sobrepeso quando comparado com mulheres não obesas. Esses achados são relacionados com outros estudos que evidenciam claramente a relação entre a extensão da hipertrigliceridemia pós-prandial e um risco relativo de eventos cardiovasculares.
Devo então diminuir gordura saturada e retirar carboidratos da minha alimentação?
Modificações alimentares devem ser encorajadas em indivíduos que tenham as suas necessidades nutricionais avaliadas por um profissional da área da nutrição. A avaliação do nutricionista em conjunto com o médico pode trazer uma programação individualizada e completa de acordo com as necessidades metabólicas do indivíduo. Em uma era onde há sempre um “terrorismo nutricional” difundido pela mídia e dietas da moda é importante lembrar que uma alimentação equilibrada, contemplando todos os macronutrientes (proteínas, gorduras e carboidratos), não trará malefícios para ninguém. Exceto se você possuir uma doença ou uma condição específica sendo sim necessário o acompanhamento médico especializado. Tenha sempre supervisão do seu medico e nutricionista.
Referências:
1. Kolovou G, Ooi TC. Postprandial lipaemia and vascular disease. Curr Opin Cardiol. 2013;28(4):446-51.
2. Sarwar N, Sandhu MS, Ricketts SL, Butterworth AS, Di Angelantonio E, Boekholdt SM, et al. Triglyceride-mediated pathways and coronary disease: collaborative analysis of 101 studies. Lancet. 2010;375(9726):1634-9.
3. Stanhope KL, Schwarz JM, Keim NL, Griffen SC, Bremer AA, Graham JL, et al. Consuming fructose-sweetened, not glucosesweetened, beverages increases visceral adiposity and lipids and decreases insulin sensitivity in overweight/obese humans. J Clin Invest. 2009;119(5):1322-34.
4. Nordestgaard BG, Benn M, Schnohr P, Tybjaerg-Hansen A. Nonfasting triglycerides and risk of myocardial infarction, ischemic heart disease, and death in men and women. JAMA. 2007;298(3):299-308.
5. Goldberg IJ, Eckel RH, McPherson R. Triglycerides and heart disease: still a hypothesis? Arterioscler Thromb Vasc Biol. 2011;31(8):1716-25.
6. Freiberg JJ, Tybjaerg-Hansen A, Jensen JS, Nordestgaard BG. Nonfasting triglycerides and risk of ischemic stroke in the general population. JAMA. 2008;300(18):2142-52.
7. Coelho et al. Orange juice with a high-fat meal prolongs postprandial lipemia in apparently healthy overweight/obese women. Arch Endocrinol Metab. 2017;61(3):263-8.
Membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM)