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Você não precisa esperar o sofrimento chegar!

Mente sã, corpo são. Quem nunca ouviu esse ditado? Saber disso a gente até sabe, fazer são outros quinhentos né rsrs? Quantas vezes estamos atordoadas com mil problemas e não nos damos conta do quão importante é cuidar da mente?

Resolvemos então fazer uma entrevista com o médico psiquiatra Dr. Higor Caldato, da clínica Nutrindo Ideais, para conversar sobre esse assunto tão importante.

Aqui ele fala sobre depressão, ansiedade, como a comida pode influenciar no nosso estado emocional e muito mais. Quem sabe assim a gente toma um choque de equilíbrio? Dá uma olhada e compartilha com aquela pessoa que você adoraria que lesse esse post!

 

  1. Gostaríamos de saber de onde surgiu o seu desejo de estudar psiquiatria. Sempre quis trabalhar na área?

O desejo pela psiquiatria surgiu quando eu já estava formado em medicina. Trabalhava como clínico geral em uma unidade de saúde da família e em consultório particular. Em ambos, eu percebia uma grande demanda de pacientes que apresentavam principalmente sintomas ansiosos e depressivos. Percebi também que eu tinha prazer em ouvir a história desses pacientes e sentia a necessidade de ajudá-los em seu sofrimento. Como eu lhes oferecia uma boa escuta e empatia pelo que me relatavam, eles sempre voltavam as consultas. Nesse sentido, decidi buscar mais conhecimento e prática na área para oferecer o melhor aos pacientes. Sendo assim, me dediquei aos estudos e fiz três anos de residência em Psiquiatria, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Posteriormente, continuei meus estudos direcionados para a formação em Transtornos Alimentares também pela UFRJ.

 

  1. A saúde mental e a física deveriam caminhar juntas, mas percebemos que uma grande parte da população se preocupa apenas com a parte estética. Qual a importância de cuidarmos da saúde mental?

A saúde física sempre foi foco de cuidado porque é objetiva, visível, palpável. Gera sintomas que na maioria das vezes são perceptíveis. Um paciente com tosse e febre há alguns dias, corre ao médico para saber se tem pneumonia. Mas se tem sentido sintomas de ansiedade, insônia, irritabilidade, impulsividade, descontrole alimentar, perda de energia e prazer das atividades que antes costumava realizar sem dificuldades; ele geralmente neglicencia esses e outros sintomas subjetivos, sem dar a devida importância que deveriam ter. O paciente e familiares acham que trata-se de frescura, bobagem e adiam a busca por ajuda, indo apenas nos casos extremos, quando o sofrimento causado por esses “sintomas mentais” passam a afetar a saúde física ou quando começam a impedi-lo de ir ao trabalho, por exemplo.

Sendo assim, é importante estarmos sempre atentos a saúde mental também, para termos o completo bem estar. Cuidar apenas do corpo nunca permitirá uma saúde plena e efetiva. A mente doente acabará em algum momento trazendo malefícios físicos.

 

  1. Em momentos difíceis da vida, é aconselhável que todas as pessoas procurem a ajuda de um profissional? Ou um ombro amigo já ajuda?

O ombro amigo é sempre bem vindo. Quando se tem o término de um relacionamento, a perda de um ente querido, um período de dificuldade financeira; é muito importante saber que pode contar com familiares e amigos para estarem por perto, desabafar, abraçar e ajudar de alguma maneira. A ajuda profissional é diferente, seja pela psicologia ou pela psiquiatria, o olhar é neutro, sem o envolvimento afetivo que já acontece entre os amigos. O psiquiatra vai ser capaz de diagnosticar se esse sofrimento relatado é algo esperado, reativo ao período em que está vivendo ou se já passou dos limites e se tornou um “transtorno”, uma doença. Sendo uma doença; o profissional é quem irá avaliar a melhor forma de tratamento, que nem sempre envolvem medicamentos.

 

  1. Qual o primeiro sintoma para que uma pessoa procure um especialista em saúde mental?

A pessoa deve buscar ajuda de um especialista quando perceber que qualquer ‘sofrimento’, independente da causa, está lhe trazendo prejuízos, seja no trabalho, na vida social ou em seus relacionamentos. Quando passa a ter sintomas físicos relacionados a sintomas mentais. Mas atualmente já não é necessário esperar que esse sofrimento bata a porta. Preventivamente podemos nos submeter a acompanhamento especializado para lidar com as frustrações, estresse e dificuldades emocionais diárias, com intuito de evitar que um transtorno mental possa se desenvolver e se agravar.

 

  1. Na sua visão, qual tipo de doença carrega mais preconceito na hora de falar sobre o assunto?

Quando o assunto é saúde mental, o preconceito parece ser maior com os quadros psicóticos. Pacientes com esquizofrenia, por exemplo, que apresentam alucinações auditivas (dizem ouvir vozes que outras pessoas não escutam) ou sentem-se perseguidos, são vistos com um olhar de descriminação por outras pessoas e tantas vezes estão a margem da sociedade, sem suporte familiar ou tratamento adequado. Uma vez que em tratamento regular esses pacientes conseguem melhor qualidade de vida e avançam inclusive profissionalmente.

 

  1. E qual seria o mal do século?

O mal do século são os Transtornos de Ansiedade. A pressão por resultados cada vez maiores, perfeccionismo, auto-exigência, inúmeros compromissos, responsabilidades e instabilidade financeira são alguns motivos que tornam as pessoas cada vez mais ansiosas. O medo ou preocupação excessiva com o futuro as levam para o consultório com sintomas inclusive físicos, como palpitações, falta de ar, tensões musculares, dores de cabeça. Muitos passam a não sair de casa sozinhos ou não conseguem usar transporte público. Essa mesma ansiedade pode afetar o sono (geralmente não conseguem ‘pegar no sono’, a mente não relaxa, não pára de funcionar, não desliga) e a alimentação (comem de forma descontrolada desenvolvendo muitas vezes outras doenças associadas, como a compulsão alimentar).

 

  1. Explica pra gente, por gentileza, um pouco mais sobre a Campanha Janeiro Branco?

A Campanha Janeiro Branco nasceu em Minas Gerais, em 2014, e tem sido difundida de norte a sul do país, chegando a outros países também. O objetivo é fazer psico educação. Uma campanha dedicada a convidar as pessoas a pensarem sobre suas vidas, o sentido e o propósito das suas vidas, a qualidade dos seus relacionamentos e o quanto elas conhecem sobre si mesmas, suas emoções, seus pensamentos e sobre os seus comportamentos. Fala sobre saúde mental e sua importância sem preconceitos, sem estigmas, motivando a população a ter um olhar mais atento para as questões psicológicas. A campanha tem o envolvimento de psicólogos, psiquiatras, profissionais da saúde das mais diversas áreas, cidadãos e todos são convidados a divulgar temas como “quem cuida da mente, cuida da vida”.

 

  1. Como um ente querido pode “convencer” uma pessoa com quadro de depressão a procurar ajuda?

Este é um grande desafio! A melhor forma de ajudar o ente querido é tendo compreensão. Conversando e dismistificando que procurar a ajuda de um psiquiatra não significa que esse indivíduo está louco. Que cuidar da mente é tão importante quanto cuidar do corpo.

 

  1. É verdade que a alimentação pode influenciar no estado emocional?

 As substâncias produzidas pelo nosso organismo que atuam em nosso comportamento e emoções, como: a sensação de motivação, tranquilidade, prazer, humor, medo, sono, irritação, ansiedade, saciedade, estresse, apatia, etc, são chamados de neurotransmissores, eles participam no processo de informação do organismo e são responsáveis pelo equilíbrio das nossas emoções. A composição dos alimentos é capaz de alterar a produção e equilíbrio desses neurotransmissores. A sensação de bem estar está diretamente ligada à disponibilidade dessas substâncias, que são produzidas a partir de aminoácidos, carboidratos, vitaminas e minerais. Por isso, a escolha dos alimentos que ingerimos é fundamental para o nosso estado emocional, que pode ser positivo, quando fornecemos esses nutrientes na quantidade adequada, ou negativo, quando a ingestão é deficiente.

Alguns alimentos, como: aveia, grão de bico, banana, brócolis, folhas verdes-escuras, nozes, amêndoas, pimenta, maracujá, abacate, contém nutrientes que participam na produção e liberação desses neurotransmissores. Sendo assim, a escolha dos alimentos que comemos pode interferir no nosso estado emocional.

 

    10.Deixe uma dica para as nossas “Face It Lovers” de como podemos cuidar constantemente do nosso estado emocional.

Precisamos estar atentos e zelosos para que estejamos em equilíbrio. Para cuidarmos constantemente do nosso lado emocional é importante criar uma rotina que possa ser cumprida a decisão de zelar do corpo, mente e espírito. Esse tripé é fundamental e pode acontecer por meio de atividades físicas, boa alimentação, atividades diárias (mesmo que curtas) mas que sejam prazerosas, como ouvir música, ver um filme, ler um livro. Praticar a religiosidade, caso a tenha, ajuda de forma significativa nessa balança emocional. A grande dica, no entanto, e a que mais observo no consultório é que muitos fracassam por querer cuidar do outro, sem cuidar de si. Desprezar a necessidade de um equilíbrio emocional pode levar ao esgotamento próprio e ainda daqueles que o rodeiam.

 

Fonte: FaceIt